Beleza Oculta, também conhecido como Collateral Beauty em inglês, nos brinda com um enredo cativante que parece fazer uma visita amistosa ao famoso Conto de Natal de Charles Dickens, onde três espíritos fazem uma parada surpresa na vida de Ebenezer Scrooge em plena Noite de Natal.
No filme, vemos o medo da morte se manifestar nas palavras de Howard quando ele proferiu um discurso motivacional sobre o que nos une como seres humanos: amor, tempo e o medo da morte. Ele declarou: “Ansiamos por amor, desejamos ter mais tempo e tememos a morte.” Essas palavras ecoam com uma profundidade psicológica, pois a psicanálise nos ensina que esses três elementos são centrais na experiência humana.
Momentos depois, somos transportados para um presente sombrio, no qual Howard enfrenta a perda inimaginável de sua filha. Sua paixão pelo trabalho, seu entusiasmo pela vida e seus relacionamentos desmoronam como castelos de areia em uma maré alta. A morte de sua filha o mergulha em uma profunda depressão, um território psicológico escuro e desafiador.
Essa perda também abala seu casamento, algo que é observado como comum em casais que enfrentam a perda de um filho. Na ótica da psicanálise, tais momentos podem desencadear uma série de conflitos, desde a culpa mútua até estratégias de enfrentamento diferentes.
O Luto
O processo de luto, como nos lembra a psicanálise, é um caminho difícil que todos enfrentamos de maneira única. Alguns conseguem atravessá-lo naturalmente, passando por diferentes estágios até chegar à aceitação. No entanto, para outros, pode se tornar uma armadilha emocional, uma estagnação na qual não conseguem avançar. Howard encontra-se nessa última situação, uma depressão profunda e uma negação persistente que o afastam do diálogo e do contato com os outros.
Seus amigos e colegas, movidos pela preocupação com sua saúde emocional e pelas implicações na empresa, decidem agir. Eles contratam um detetive que descobre que Howard escreve cartas para o Amor, a Morte e o Tempo, revelando uma tentativa de se conectar com esses conceitos abstratos e confrontar suas emoções.
A Amizade
Ao mesmo tempo, os amigos de Howard estão enfrentando suas próprias batalhas pessoais. Whit enfrenta o divórcio e a rejeição de sua filha. Claire, dedicada ao trabalho, enfrenta o medo do envelhecimento e da solidão. Simon lida com a descoberta de uma doença terminal, enquanto se torna pai. No meio de seus próprios desafios, eles demonstram amor e solidariedade a Howard, revelando que, além dos problemas empresariais, a amizade é o fio condutor que os une.
Os atores que personificam os conceitos alegóricos (Amor, Morte e Tempo) estabelecem conexões profundas com esses personagens e, assim, desempenham um papel fundamental na jornada de cada um. A Morte auxilia Simon a aceitar seu destino, enquanto o Amor aproxima Whit de sua filha e do potencial de reconciliação. O Tempo toca a vida de Claire, ajudando-a a enfrentar sua angústia em relação ao passado e ao envelhecimento.
Juntando as Peças
Howard monta peças de dominó, simbolizando metaforicamente o colapso emocional que ele experimentou. Ao longo do filme, vemos como essas peças, como os elos da mente e do coração, são gradualmente reconstruídas, permitindo que cada personagem avance em sua jornada de cura.
Para concluir, o filme nos convida a refletir sobre a mortalidade, a relatividade do tempo e o poder do amor que permeia todas as experiências humanas, inclusive nas mais dolorosas. A beleza oculta que o filme nos apresenta é a busca por significado em meio à adversidade e a capacidade de cura que surge quando enfrentamos nossos medos e compartilhamos nossas dores com aqueles que nos rodeiam.